Inovação foi o destaque do IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação
- Fernanda B Muller, ISAS
- 4 de ago. de 2018
- 3 min de leitura

Seja na área financeira, na gestão, fiscalização ou comunicação, a inovação foi o tema preponderante durante o IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), realizado pela Fundação Grupo Boticário durante a semana que passou em Florianópolis.
Com as consequências e as pressões ambientais do antropoceno cada vez mais evidentes, abordagens apenas voltadas para a conservação parecem cada vez mais escassas. O IX CBUC mostrou que novas formas de se fazer e buscar a conservação dos ecossistemas são urgentes e iminentes.
Com o tema Futuros Possíveis: Economia e Natureza, o Congresso facilitou debates desde como buscar investimentos de impacto para a conservação até como comunicar mais adequadamente as demandas ambientais para que a população se sinta tocada e incentivada a agir, além de dar espaço para questões como preservação marinha, ecoturismo, gestão e implementação de UCs, entre outros.
Ficou claro que a questão de se conhecer mais e comunicar melhor sobre os serviços ecossistêmicos e seus benefícios para a sociedade é elementar na união de forças para salvaguardar o que resta de biodiversidade.
Algumas empresas já parecem estar internalizando esta urgência. Fundos de investimentos têm incluído critérios ambientais (principalmente clima e água) em seus repasses financeiros, e novos mecanismos estão surgindo para financiar projetos que tenham impactos positivos não apenas nos rendimentos mas também nas áreas social e ambiental.
Porém, a imensa maioria dos investimentos ditos “verdes” ainda são mais voltados para setores que geram retornos financeiros, como energias renováveis. Parte dos investimentos que não são filantrópicos estão sendo direcionados para projetos que geram produtos de origem extrativista, como café sustentável ou beneficiamento de derivados de castanhas.
Investimentos puramente em conservação são muito poucos e tem origem principalmente filantrópica, é o que mostrou o simpósio direcionado para o assunto. Ficou claro que os fundos de investimento não estão prontos para financiar projetos sem retornos financeiros diretos e imediatos como os de conservação, a não ser que tenham características muito inovadoras. Porém, alguns fundos como o Althelia, o Kaeté e o Permian Global, estão começando a tentar fechar este gap.
Outro tipo de inovação para a conservação apresentada no congresso foi a tecnológica. No Instituto Mamirauá, na Amazônia, o Projeto Providence vem implementando uma forma diferente e automatizada para o monitoramento da rica fauna amazônica. Monitores, muito mais sofisticados que as armadilhas fotográficas, conseguem identificar animais por sons e imagens. Cerca de 40 monitores já estão cadastrados no sistema, que permite pesquisar os animais por espécie, área e período de registro.
“É preciso gerar informação e traduzir para a sociedade para aproximá-la da causa da conservação”, comentou Emiliano Ramalho do Instituto Mamirauá.
Outro tipo de tecnologia inovadora que tem sido utilizada em prol da conservação é o monitoramento por satélite de milhares de embarcações ao redor do mundo pelo sistema Global Fishing Watch, que lida com a questão da pesca ilegal, apresentado por John Amos da empresa Skytruth.
A inovação também pode ocorrer no meio artístico. No último painel do evento, três exemplos de como a cultura e a arte estão sendo usadas para aumentar a sensibilização da sociedade para as causas ambientais foram apresentados.
Edmara Barbosa, escritora e autora de novelas, apresentou como o grande publico pode ser tocado pela questão ambiental por tramas de ficção como a novela Velho Chico. Letícia Cazarré, Primatologista, Jornalista e Publisher da revista CAUSE, comentou sobre como conseguiu unir assuntos ligados à moda com questões ambientais urgentes.
Já o cantor Lenine, conhecido por participar ativamente da batalha pela preservação ambiental, disse que “a arte pode ser uma maravilhosa ferramenta de transformação” e comentou que compõe suas musicas na expectativa que as pessoas cheguem em casa após o seu show refletindo.
O jornalista André Trigueiro, editor-chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News, enfatizou que é preciso valorar os serviços prestados pelos ecossistemas, não para que tenham um valor de venda, mas para falar a mesma língua do mercado (economistas) e para as pessoas entenderem melhor os benefícios que os ecossistemas prestam para a sociedade.
Trigueiro também falou da importância de se investir mais no ecoturismo, outro tipo de serviço ecossistêmico cultural. Atividades como a observação de animais (baleias, aves, etc) são pouco exploradas e carecem de infraestrutura básica, áreas que precisam de investimentos, alertou o jornalista, pois geram emprego e renda para a população local.
Assim, os mais diversos palestrantes do congresso trouxeram uma gama de assuntos distintos, porém conectados quando se considera a questão dos serviços ecossistêmicos, desde culturais (como a arte) até de regulação (ex. clima) e de provisão (água, alimento, etc). Talvez quando a população começar a compreender todas estas conexões e o quão essencial é a natureza para suas vidas, a disponibilização de recursos financeiros para a conservação pura passe a ser vista de fato como um investimento.
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